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Editorial do Diário de Aparecida: Contradições da “Capitã Cloroquina”

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado ontem, 25, a médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, concedeu uma série de declarações contraditórias, para não dizermos inverídicas. Conhecida pela alcunha de “Capitã Cloroquina”, a secretária é uma aliada fiel da ideologia negacionista do presidente Jair Bolsonaro e da crença do tratamento precoce contra a Covid-19.

Pinheiro, assim como o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, obteve um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite que ela fique calada sobre os acontecimentos referentes ao Amazonas. Isso porque a secretária é alvo de uma ação de improbidade administrativa que investiga a omissão de autoridades diante do colapso do sistema de saúde no Estado. Porém, a ação não a impediu de proferir uma série de relatos que não coincidem com as falas de Pazuello.

Entre as contradições estão a de que o governo não incentivou o “tratamento precoce” e o uso de cloroquina em casos de Covid-19; desmentir uma própria fala sua e de Pazuello, dadas anteriormente, de que o aplicativo TrateCov teria sido retirado do ar porque havia sofrido a ação de hackers, e garantir, ontem, que a plataforma nunca foi hackeada; ao afirmar que levou em consideração os estudos e declarações a respeito do uso de cloroquina e hidroxicloroquina, dentre tantas outras alegações, no mínimo, questionáveis.

O que se vê, desde o início da CPI da Covid, é que a maioria dos representantes do Planalto está indo ao Senado sem nenhuma preocupação, a não ser a de blindar o presidente Jair Bolsonaro. Mesmo que para isso deem falas contraditórias a tudo que fizeram ou disseram em suas respectivas responsabilidades no combate à pandemia sem a mínima preocupação de que seus depoimentos sob juramento os façam parar atrás das grades, pois acreditam na impunidade instaurada nas vísceras do País como um câncer.

Em um momento em que o Brasil já tem mais de 450 mil vidas perdidas e está vendo se iniciar uma terceira onda do novo coronavírus, não podemos aceitar que a condução da crise sanitária seja levada na maciota por governantes e representantes públicos que agem de forma leviana e irresponsável para a blindagem de cargos e posições ideológicas e político-partidárias. Precisamos acordar. Não podemos considerar “normal” esse “mar” de brasileiros mortos por negligência e omissão, que começa no governo federal, passa pelas gestões estaduais e se estende até as esferas municipais.

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