Enfrentar a reeleição de Caiado: uma missão com jeito de suicida
Se as lideranças oposicionistas que vão atuar em 2022 contra a reeleição do governador Ronaldo Caiado se reunissem em uma sala, quem abrisse a porta se depararia com apenas sete homens: Marconi Perillo, José Eliton, Jânio Darrot, Delegado Waldir, Gustavo Mendanha, Sandro Mabel e Alexandre Baldy.
É isso, hoje, que parece se desenhar no horizonte para o enfrentamento entre governo e oposição na eleição do ano que vem. O detalhe mais importante, que salta à vista, é que nenhum desses 7 políticos tem cacife para, por exemplo, se candidatar a governador, alguns pela ficha maculada por processos judiciais e denúncias de corrupção, outros por carência de densidade política e ainda os que, como o Delegado Waldir, não correriam o risco de uma derrota acachapante, quando poderiam ter uma vitória tranquila para uma vaga de deputado.
A verdade nua e crua é que tentar cortar o caminho de Caiado para a reeleição em 2022 é uma missão que vai beirar o impossível. Contadas nos dedos da mão, as lideranças de oposição são fraquíssimas – esmagadas por problemas quase incontornáveis, como o envolvimento em casos policiais, ou mesmo a falta de densidade em matéria de voto e expressão política.
Nunca, como agora, a oposição em Goiás esteve tão sem rumo e pobre em expectativas. A aliança a caminho entre o DEM e o MDB será fatal para os 7 cavaleiros do apocalipse reunidos na sala hipotética mencionada no início deste texto. A iminência do acordo que provavelmente levará Daniel Vilela para ocupar a vice na chapa de Caiado simplesmente tira o oxigênio e sufoca a oposição, que fica sem o principal partido que poderia comandar a reação contra a reeleição.
Marconi Perillo: o desgastado
O ex-governador Marconi Perillo, nominalmente falando, seria a principal liderança da oposição contra o governador Ronaldo Caiado – mas, com a imagem manchada por escândalos de corrupção e mais de 4 dezenas de processos judiciais, perdeu completamente o fôlego e terá dificuldades até para se eleger deputado federal, única saída possível para conquistar um mandato e sobreviver na política. Em desespero, abriu as portas do PSDB para o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, que hesita em se identificar com os desgastados tucanos de Goiás e evita aparecer publicamente com o ex-governador. Esse, aliás, é o desafio que Marconi não consegue responder: como atrair aliados, se ninguém quer proximidade com ele, sob receio de se contaminar com os seus desgastes? A avaliação é que, em uma eleição, seu apoio tira, não acrescenta votos.
José Eliton: o inexpressivo
O ex-vice e ex-governador José Eliton, fragorosamente derrotado em 2018 ao ficar em 3º lugar para eleição para o Palácio das Esmeraldas, não é o que se pode chamar de “político”. Durão e autoritário, vive arranjando desafetos com o seu jeito agressivo de se relacionar, inclusive dentro do PSDB, para cuja presidência estadual foi indicado pelo seu parceiro Marconi Perillo. Não acrescenta nada à oposição, já que não tem nenhuma densidade eleitoral. Em condições normais, seria o representante da oposição na batalha de 2022, baseado no recall que poderia trazer da sua candidatura passada, mas o fiasco pesou para esvaziar completamente o seu nome. Fora Marconi, não tem interlocução com mais ninguém, tomando decisões como presidente do PSDB de forma isolada e aprofundando ainda mais os seus desgastes.
Jânio Darrot: o desorientado
O ex-prefeito de Trindade e megaempresário do setor de confecções e pecuária de corte Jânio Darrot é considerado politicamente ingênuo: antes, era marionete de Marconi Perillo, a quem exaltava incondicionalmente, agora faz o mesmo papel para o marqueteiro Jorcelino Braga, que o convenceu a sair do PSDB e ingressar na aventura do Patriota, prometendo que o partido receberia a filiação do presidente Jair Bolsonaro, cujos votos, em Goiás, garantiriam a eleição de Jânio para o governo em 2022. A operação terminou em desastre total: nem Bolsonaro foi para o Patriota nem o Bolsonaro parece capaz de sobreviver aos equívocos e à impopularidade do presidente. Em consequência, Darrot perdeu o rumo e agora caminha para uma candidatura a deputado federal, que o seu poderio financeiro tem plenas condições para garantir.
Delegado Waldir: o estabanado
Para o deputado federal Delegado Waldir, duas vezes campeão de votos na eleição para o Congresso Nacional e o único com consistência eleitoral no grupo dos 7, porém sem perfil majoritário (tentou a prefeitura de Goiânia, com votação pífia), o requisito fundamental para o seu posicionamento em 2022 é o apoio ou não que o governador Ronaldo Caiado dará à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Se não se ligar a Bolsonaro, Caiado tem grandes possibilidades de ganhar novamente o apoio de Waldir. Outro fator importante, no caso dele, é a indisposição para correr riscos, preferindo a reeleição para a Câmara Federal em vez de arriscar aventuras majoritárias, como disputar o Senado, por exemplo. Dos 7 cavaleiros do apocalipse, é o mais independente.
Gustavo Mendanha: o inexperiente
Sem nunca ter enfrentado qualquer desafio na sua curta carreira política, o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha vem sendo influenciado por Marconi Perillo e por Sandro Mabel para formar com a oposição que vai tentar barrar a reeleição do governador Ronaldo Caiado. Problema: ele é do MDB, partido que está prestes a fechar aliança com o DEM para apoiar a reeleição. Problema mais trave ainda: como Mendanha tem compromisso de fidelidade com Daniel Vilela, a quem deve (e ao pai Maguito Vilela) a sua 1º eleição para a prefeitura aparecidense, caso se posicione contra uma chapa com Caiado para governador e Daniel para vice será inevitavelmente acusado de traição, pecha que costuma ser fatal na política por mostrar defeito de caráter. Se ouvir Marconi e se tiver coragem de renunciar ao mandato de prefeito, pode até ser o candidato.
Sandro Mabel: o pior dos piores
Presidente da poderosa Federação das Indústrias do Estado de Goiás – FIEG, o empresário do ramo de pimentas Sandro Mabel aceita fazer qualquer coisa, desde que com a intenção de prejudicar a reeleição do governador Ronaldo Caiado – que costuma chamá-lo de “gente da pior espécie”. Mabel, que já foi deputado federal, tem péssima imagem, depois de envolvido em todos os escândalos que apareceram em Brasília nos seus mandatos parlamentares. Rivaliza-se a Marconi quanto aos desgastes e na forma como os demais políticos evitam a sua proximidade, com exceção de Gustavo Mendanha, que o tem como conselheiro político. Mais atrapalha do que ajuda qualquer projeto da oposição em 2022, porém vem arrotando valentia ao garantir que, se ninguém mais ousar, está disposto a apresentar o seu nome como alternativa para a reeleição de Caiado.
Alexandre Baldy: o indefinido
Mais um que, morando em São Paulo, como Marconi Perillo, faz política em Goiás à distância: Alexandre Baldy, atual secretário de Transportes Metropolitanos do governador João Dória, tem a pretensão de disputar o senado em 2022, mas já sabe que não terá jamais lugar na chapa da reeleição do governador Ronaldo Caiado, mesmo representando o PP (partido que preside estadualmente e é tido como grande), devido aos seus desgastes por envolvimento em denúncias pesadas de corrupção, já processado judicialmente. Entretanto, não descarta apoiar Caiado, a quem manda recados continuamente dizendo que está aberto para conversações. Quer dizer: está para lá, com a oposição, mas também pode ficar para cá, com a reeleição do governador. Por outro lado, tem dito que será candidato à senatória, de qualquer maneira, o que indica propensão para se alinhar com o oposicionismo no ano que vem.