Aparecida

Aparecidenses reclamam de demora no atendimento nas unidades públicas municipais de emergência

Pessoas ficam até sete horas nas filas de UPA’s e Cais de Aparecida de Goiânia e não recebem assistência adequada

Eduardo Marques

As unidades de urgência e emergência públicas municipais de Aparecida de Goiânia estão superlotadas neste mês de dezembro, principalmente por causa de uma nova onda de gripe, pandemia de Covid-19 e surto de dengue. Quem precisa de atendimento médico pode esperar mais de sete horas na fila. Nos Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) 24 horas do município, idosos, adultos e crianças estão misturados e reclamam do atendimento. É difícil caminhar pelos corredores sem esbarrar em alguém.

Há uma semana, o Diário de Aparecida publicou uma reportagem relatando o mesmo problema. De lá para cá, a equipe de jornalismo recebeu diversas denúncias de aparecidenses reclamando da demanda, que só piorou. Inclusive, uma das denúncias aponta que na última segunda-feira, 27, só havia três clínicos gerais e um pediatra cumprindo o plantão noturno na UPA Brasicon.

Larissa Mel, de 19 anos, chegou à UPA Brasicon na segunda-feira, 27, com dor de cabeça muito forte, enjoo e sintomas gripais. Ela chegou às 9h, mas no meio da tarde ainda não tinha sido atendida. “Não sei quanto tempo vai levar para eles me darem um soro e depois me mandarem de volta para casa”, relatou a jovem. “Lá dentro está muito cheio, tiveram que fazer uma chamada, porque muitas pessoas desistiram, foram embora”.

Rafael Pereira e a esposa esperaram mais de sete horas para que os filhos fossem atendidos na UPA Buriti Sereno. “Eles estavam com sintomas. A gente não sabe se é Covid-19 ou gripe. Demoraram pra fazer exame. Aí não tinha pediatra. Foram atender a gente quase 7 horas depois. E a gente fica nesse desespero”. Já Jeferson Bernardino passou algo parecido, pois trouxe a mãe doente, mas vai sair sem atendimento adequado.

No Cais Nova Era, Antônio Amarildo, 53 anos, esperava por mais de cinco horas para ver o filho ser atendido. Ele relatou que a situação é de estresse entre os pacientes. “O atendimento por aqui está demorando muito. O prefeito Gustavo Mendanha deveria aumentar o número de profissionais para agilizar para a população. Essa é a ‘cidade inteligente’ que ele faz propaganda? Que ‘cidade inteligente’ é essa que não investe na população? Porque disso não tem nada. Muita gente já desistiu. Tem até tido muita briga lá dentro, os guardas municipais tiveram que intervir”.

O pedreiro Dione Santos, de 26 anos, procurou o Cais Colina Azul Sereno na noite de terça-feira, 28, com sintomas gripais. Ele contou que esperou duas horas para realizar a triagem e que só havia dois clínicos gerais atendendo a população. “Ontem [terça-feira] estava cheio pra caramba. Cheguei lá umas 20 horas e saí meia-noite. Tem que ficar esperando esse tempo todo só para passar pelo médico para consultar, mas o exame de sangue não acontece à noite. Tem que retornar de dia para fazê-lo”, reclama.

A cabeleireira Isabel Cristina Ribeiro, 35 anos, acompanhava a mecânica Ana Carolina Oliveira Lira, de 24, no Cais Colina Azul. Com febre, dores pelo corpo e mal-estar, Lira estava deitada no gramado na entrada da unidade, “por não conseguir ficar de pé.” Elas chegaram na unidade de saúde às 6h da manhã, às 7h já haviam passado pela triagem mas, até as 12h40, ainda não tinham sido atendida pelo serviço médico.

Samuel Vieira de Castro, de 19 anos, contou que chegou às 8h no Cais Colina Azul, mas só foi passar na triagem às 11h. “Tinha mais de 40 pessoas na minha frente. Tive febre de 39 graus ontem à noite e o pessoal não consegue dar atenção para gente. Se você entrar lá dentro, vai ver umas 300 pessoas esperando.

A superlotação relatada no Cais Colina Azul se repetiu na UPA Parque Flamboyant, com pacientes aguardando atendimento sentados no chão da sala de espera. A dona de casa Maria do Socorro, de 65 anos, que está com suspeita de Dengue, reclamou do atendimento. “Cheguei lá meio-dia e saí às 17 horas. Não suportava tamanha dor mais. Atendimento muito demorado. Vizinha minha, que também está com suspeita, foi sábado passado, mas não suportou a demora e foi embora. É um descaso da Prefeitura de Aparecida com os moradores. Nós pagamos nossos impostos e eles não se importam com a gente. É um sentimento de revolta.”

Prefeitura não investe na Saúde e justifica serviço ruim atribuindo a culpa aos pacientes vindos de outras cidades

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida informou que a demanda aumentou em 35% nos últimos dias devido aos casos suspeitos de dengue, gripe e Covid-19, ou seja, pessoas com sintomas gripais como tosse, dor de cabeça e no corpo, coriza, febre e fraqueza, dentre outros. A pasta comunica também que cerca de 40% dos pacientes atendidos em Aparecida são de outras cidades da Região Metropolitana. A pasta informa, ainda, que o fluxo de cada unidade continua sem interrupções.

“Para solucionar o problema da imensa demanda, a SMS abriu ontem, 29, todas as 40 UBS’s da cidade para atendimentos relacionados às síndromes gripais e à dengue, inclusive com exames laboratoriais para descartar casos de Covid-19 e dengue. A SMS orienta então as pessoas a procurarem as UBS’s em caso de sintomas gripais. As 40 UBS’s de Aparecida atenderão de “porta aberta” (sem necessidade de agendamento prévio) a esses pacientes com sintomas gripais ou de dengue”, informa o comunicado.

A SMS acrescenta que as escalas médicas estão completas em todas as unidades de urgência da rede. Na UPA Brasicon são cinco clínicos, dois pediatras e outros 10 profissionais para atendimento geral e exames; na UPA Flamboyant são cinco clínicos, dois pediatras, um psiquiatra, um psicólogo, um dentista e outros 20 profissionais para atendimento geral e exames; na UPA Buriti são cinco clínicos gerais, dois pediatras, um ortopedista, um dentista e outros 15 profissionais para atendimento geral e exames; no Cais Nova Era são quatro clínicos gerais, dois pediatras e outros 20 profissionais para atendimento geral e exames; no Cais Colina Azul são três clínicos gerais, dois pediatras, um psicólogo e outros 15 profissionais para atendimento geral e exames.

Sobre a denúncia que o DA recebeu de que havia apenas três clínicos gerais e um pediatra atendendo na UPA Brasicon na segunda-feira, 27, a SMS explica que as escalas médicas estavam completas em todas as unidades de urgência da rede. “No plantão noturno desta segunda-feira, 27, por exemplo, seis clínicos e dois pediatras atenderam na UPA Brasicon; sete clínicos, dois pediatras e um ortopedista na UPA Buriti Sereno; seis clínicos, dois pediatras e um psiquiatra na UPA Flamboyant; três clínicos e dois pediatras no Cais Colina Azul e cinco clínicos e dois pediatras no Cais Nova Era. Neste dia, por exemplo, foram realizados 710 atendimentos na UPA Flamboyant, 815 na UPA Brasicon, 938 na UPA Buriti Sereno, 759 no Cais Nova Era e 416 no Cais Colina Azul totalizando 3.683 atendimentos em 24h”, destaca.

“Ressalta também que os números de profissionais médicos são superiores ao preconizado pelo Ministério da Saúde e os atendimentos ocorrem conforme prioridade clínica, ou seja, priorizando os casos mais graves e com risco de vida”, arremata. (E.M.)

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