Em 40 anos, Goiás só escolheu nomes com amplo significado social e político
O que dificulta as candidaturas oposicionistas é a falta de correspondência com os movimentos sociais, que normalmente dão o tom da escolha de um governador de Estado
A linha do tempo que escorre entre 1982 e 2018, prestes a ter sequência em 2022, mostra que em Goiás nesse período só foram eleitos governadores conectados a um amplo contexto histórico, sempre como consequência de um “movimento” social e político e nunca de projetos exclusivamente pessoais ou partidários.
Vitórias como a de Iris Rezende em 1982, Marconi Perillo em 1998 e Ronaldo Caiado em 2018 estão muito acima de qualquer justificativa partidária ou pessoal, ao envolver a realização, naqueles momentos, de anseios coletivos das goianas e dos goianos por uma repaginação geral do Estado, em ruptura com os processos de poder então em vigor.
Isso mostra que o eleitorado estadual é amadurecido e sabe o que quer. Em praticamente 40 anos, nunca aceitou aventuras, por um lado, e retrocessos, por outro. Não houve passos atrás. Iris rompeu o ciclo dos governos indicados pelos militares, mas em 16 anos chegou a um estágio de fadiga administrativa, de mais do mesmo e, vale lembrar, também de recorrência de escândalos, mesmos motivos que levaram 20 anos depois a liquidação do PSDB e ao advento de uma nova modernidade encarnada na reorganização da máquina administrativa, na recuperação da sua eficiência inclusive fiscal e na rigorosa disciplina anticorrupção imposta por Caiado – tudo que ele já demonstrava ser na campanha, com o peso da sua biografia.
Entre essas três eleições, não aconteceu nenhuma dissonância: Goiás escolheu governadores que expressavam garantia de continuidade nas políticas públicas dadas como acertadas de Íris e Marconi e que seriam mantidas por gestores com o selo de qualidade do sistema vigente, casos de Maguito Vilela em 1994 e de Alcides Rodrigues em 2006, além, obviamente, das reeleições dos próprios Iris e Marconi.
Henrique Santillo, em 1986, também trazia a certeza da preservação dos parâmetros da boa gestão de Iris, mas, em particular, oferecia para a sociedade o charme de um intelectual magnificamente preparado e com presença na luta pela redemocratização do país, algo que tinha apelo e era extremamente sedutor naquela época.
É fácil constatar que não houve desvios nesse cordão de governantes eleitos mediante critérios que foram além de partidos e de questões pessoais e que, em última análise, tiveram forte identificação com o que a sociedade queria.
O fato é que nenhum deles chegou ao Palácio das Esmeraldas à toa, embalados apenas por partidos ou qualquer liderança individual (o que é provado pelas derrotas de Iris em 2010 e 2014). E isso tende a se repetir em 2022.
Daí, é fácil entender as dificuldades da candidatura do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha (Patriota) e do deputado federal Major Vitor Hugo (PL), pela ausência de significado e de simbolismo nos seus nomes, nem mesmo como representante do campo oposicionista, a não ser o mero desejo pessoal e uma interpretação equivocada dos resultados da eleição municipal de 2020, no caso do primeiro, e da imposição a Goiás da guerra ideológica nacional, quanto ao segundo.
Candidaturas como a do ex-vice e ex-governador José Eliton, figura impopular e carimbada com a proposta de volta ao passado, mesmo recondicionada com tintas esquerdistas, também podem ser vistas pelo mesmo ângulo. Mendanha, Vitor Hugo e José Eliton são faces do mesmo prisma: projetos que não nasceram na sociedade e não representam qualquer visão de futuro para o Estado.