Política

Mais 1 milhão de votos a mais para Bolsonaro em Goiás. Será possível?

Meta apresentada por Major Vitor Hugo e corroborada por Wilder e Caiado parece impossível de ser alcançada devido a abstenção e aos números superlativos já alcançados pelo presidente no 1º turno

Meta do bolsonarismo em Goiás não parece factível: Lula mantém 40% dos votos no Estado e nada indica que esse percentual irá diminuir no 2º turnoPrimeiro, foi o Major Vitor Hugo (PL). Ele foi para as redes sociais, dentro do seu habitual e exagerado otimismo com a liderança do presidente Jair Bolsonaro (PL), avisar que a meta da campanha bolsonarista em Goiás é aumentar em 1 milhão de votos o resultado conquistado no 1º turno.

No Estado, Bolsonaro venceu no dia 2 de outubro com 1.920.203 sufrágios, contra 1.454.723 atribuídos a Lula da Silva (PT). Uma diferença de exatos 465.480 votos. Sem falar que o presidente conseguiu o melhor número em todos os tempos quanto a qualquer candidato a qualquer eletivo em Goiás.

Depois de Major Vitor Hugo, vieram na esteira o senador eleito Wilder Morais e por último o governador Ronaldo Caiado. Todos eles definindo como meta alcançar os tais 1 milhão de votos a mais, ou seja, além dos quase 2 milhões conquistados por Bolsonaro, um acréscimo de mais 50%.

Quer dizer: somando-se aos 1.920.203 votos do presidente no 1º turno, a meta de Major Vitor Hugo, Wilder e Caiado seria chegar a quase 3 milhões. Isso, em um eleitorado com 4,8 milhões de inscritos para teclar as urnas eletrônicas. Ninguém acredita que isso seria possível.

Há, em primeiro lugar, o problema da abstenção, que, no 1º turno, no Estado, passou de 20% e bate, portanto, 1 milhão de eleitores. E, como se sabe, no 2º turno, a ausência dos eleitores costuma subir. É fato concreto confirmado pelas últimas eleições.

De onde viriam, então, esses novos 1 milhão de votos para Bolsonaro? Há uma disponibilidade de 400 mil votos, destinados no 1º turno a Simone Tebet (MDB), a Ciro Gomes (PDT), a mais alguns nanicos e, por fim, os brancos e nulos. Difícil acreditar que todos iriam para Bolsonaro, já que as pesquisas mostram que estão se repartindo entre os 2 candidatos presidenciais e que os brancos e nulos persistem mais ou menos nos mesmos índices.

Afora os discursos ufanistas, pode-se imaginar que, sendo bem- sucedida, a campanha da reeleição do presidente conseguiria, em Goiás, aumentar alguns votos, mas não muito além dos obtidos no 1º turno. Isso, sendo um sucesso.

Há fatores a favor. No 1º turno, Caiado não declarou voto ou apoio quanto à eleição presidencial. Ficou neutro. Agora, não. Está rasgadamente a favor de Bolsonaro, reunindo diariamente prefeitos de todos os cantos do território goiano para insuflar ânimo na campanha da reeleição do chefe da nação.

Pode fazer a diferença? Pode. Mas não a ponto de faturar 1 milhão de votos a mais que o 1º turno. Talvez 200 ou 300 mil, o que já seria uma façanha. Para isso, seria preciso conquistar a maioria dos apoiadores de Simone Tebet e Ciro Gomes, além de reduzir os nulos e brancos e, de resto, diminuir a abstenção, presumindo-se que isso beneficiaria Bolsonaro e não Lula.

Resumo da ópera: Bolsonaro já chegou perto de 2 milhões de votos em Goiás e, com mais 1 milhão, teria quase 3 milhões, em um eleitorado de 4,8 milhões de inscritos e ainda por cima com uma abstenção que tende a ser maior que 20% no 2º turno.

Matematicamente, a conta não fecha. E se o resultado for menor que o do 1º turno, vai pegar mal para todos os bolsonaristas.

 

Caiado, mesmo com uma vida dedicada à defesa do agronegócio, foi abandonado pelos produtores rurais de Goiás

1º turno: empresariado e agro traíram Caiado e investiram em Major Vitor Hugo e Mendanha

 

A tese de que Goiás seria um Estado conservador e refratário a candidatos de esquerda precisa ser repensada. No 1º turno, é verdade, Bolsonaro venceu no Estado com exatos 465.480 votos de vantagem. Mas, mesmo assim, Lula obteve 1.454.723 sufrágios. É muita coisa. Isso corresponde a quase 40% dos votos válidos e mostra que a esquerda mantém uma forte presença entre os goianos. Em Mato Grosso, por exemplo, os números de Bolsonaro foram bem mais significativos, chegando a quase 60% dos votos (em Goiás, foram 52,16% para o presidente).

A esquerda, portanto, está viva em Goiás. Corresponde à visão de mundo de quase metade da população. Lembrando que ser de esquerda hoje perdeu o viés ideológico. Significa estar a favor da defesa do meio-ambiente, dos direitos humanos e das políticas sociais. Nada a ver com comunismo ou socialismo, que não existem no mundo moderno.

É uma ilusão definir Goiás como um Estado conservador e de direita. Não é bem assim. As eleições proporcionais deixaram isso bem claro, no 1º turno. Em relação aos parlamentares de centro ou de centro-esquerda, os direitistas moderados ou radicais elegeram uma minoria de representantes. A maioria é centrista.

O PT, na Assembleia Legislativa e na bancada federal, ampliou a sua participação. Três cadeiras de deputado estadual e 2 de federal, mais que em qualquer outro momento da história política do Estado. Ah, alguém dirá, o governador reeleito é de direita e isso prova a hegemonia do segmento em Goiás. Mais uma vez, não é bem assim.

Caiado compartilhou mais de 60% dos seus votos com os dados a Lula. Isso foi mostrado com clareza pelas pesquisas. Seu governo desenvolveu políticas de centro-esquerda, como o forte apelo aos programas sociais, e atraiu para ele uma nova base popular formada por esse público. O empresariado e o agronegócio não votaram em Caiado.

Eles preferiram Major Vitor Hugo, bolsonarista roxo, e Gustavo Mendanha, bolsonarista de oportunidade. Juntos, os dois chegaram a mais de 40% dos votos, quando a expectativa era que Caiado fosse reeleito com mais de 60%. Não deu. Setores conservadores tradicionais abandonaram o governador e apoiaram seus adversários. Ele, ainda assim, obteve cerca de 52% dos votos e liquidou a fatura no 1º turno, em uma demonstração de prestígio e consistência da sua liderança.

O empresariado e o agro traíram Caiado e conspiraram na surdina para a sua derrota, ao menos empurrando a eleição para o 2º turno. A força da influência pessoal do governador se impôs e ele venceu logo na 1ª etapa, embora com margem apertada. E, como se argumenta nesta matéria, com votos que foram divididos com Lula da Silva.

Nas franjas, a eleição de Wilder Morais para o Senado saiu dessa conspiração silenciosa, que arriscou tudo na tentativa de derrotar Caiado no 1º turno, criando um constrangimento e empurrando-o para o 2º turno, além de criar em Goiás um regime radical de extrema-direita. Logo Caiado, que tem um histórico de combate à esquerda em termos nacionais, sem nunca vacilar por um segundo qualquer.

O empresariado estadual e o agro comandado pelo Sudoeste goiano são atrasados politicamente. Caso vencessem, teriam metido Goiás em uma aventura ruinosa.

 

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