Política

Só 8% dos eleitos para o Congresso são de fato nomes novos na política

Resultado das urnas de 2022 mostrou que a maioria dos deputados e senadores eleitos já ocupou mandatos, cargos de alto escalão do governo ou é herdeira de tradicionais famílias da política

Próxima Legislatura do Congresso Nacional quase não terá novidades em termos de nomes para a Câmara e o Senado

Por: Helton Lenine

 

O Congresso Nacional teve uma renovação efetiva de apenas 8% de suas cadeiras nas eleições do último dia 2. O resultado das urnas mostrou que a maioria dos deputados e senadores eleitos já ocupou mandatos, cargos de alto escalão do governo ou é herdeira de tradicionais famílias da política. Sem contar essas situações, sobram apenas 39 deputados sem vínculo político anterior que tomarão posse em 2023.  No Senado, só um senador eleito nunca ocupou antes um cargo público.

 

A posse dos deputados, em fevereiro, provocará a troca de 45% dos assentos na Câmara Federal. Mas essa substituição esconde conexões que representam a continuidade dos grupos dominantes da política brasileira, como indica levantamento feito pelo Instituto Millenium.

 

O estudo só considera como renovação quem nunca teve mandato. Para os autores, o resultado das urnas não apenas mantém a atual configuração do jogo político em Brasília como dificulta a entrada de novos nomes no Legislativo.

 

Entre os eleitos há quem vá assumir sob o peso de dinastias, como é o caso das famílias Arraes e Campos, em Pernambuco. João Campos, filho de Eduardo Campos, e Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, chegaram a Câmara em 2018. João foi para a prefeitura do Recife e Marília tenta agora ser governadora, mas o clã não ficará sem representantes no Congresso. Pedro Campos (PSB), 26 anos, irmão de João; e Maria Arraes (Solidariedade), 28, irmã de Marília, estão entre os deputados eleitos.

 

Velhos conhecidos do Congresso, como Eunício Oliveira (MDB), deputado eleito pelo Ceará, aparecem no meio das “novidades”. O currículo de Eunício inclui a presidência do Senado e 2 mandatos anteriores na Câmara. Herdeira da principal família política do Maranhão, Roseana Sarney (MDB) também foi eleita deputada, após ter sido quatro vezes governadora, além de senadora. Antes, Roseana passou pela Câmara, assim como Eunício.

 

Outros “novatos” não trazem a política no sangue, mas foram apadrinhados após ocupar altos cargos em ministérios ou secretarias, como Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde; e Mário Frias, que foi secretário de Cultura no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL-SP). Isso sem falar de deputados estaduais, vereadores e daqueles que já estiveram em outros postos da administração pública. “Há uma tendência de deixar o Congresso menos fragmentado, com nomes estabelecidos.  Isso traz uma certa estabilidade para o jogo político, mas o modelo prejudica novos entrantes”, afirmou o cientista político

 

Diogo Costa, um dos autores do estudo, ao lado da jornalista Priscila Chammas e do cientista de dados Wagner Vargas. Para Costa, a baixa renovação se deve à concentração de recursos públicos para financiar quem já faz parte dos círculos políticos. Na lista dos eleitos, os candidatos a reeleição receberam 80% mais recursos do que quem não disputou novo mandato. “O risco é esse modelo ficar engessado e se tornar um padrão”, observou o cientista político.

 

39 deputados representam efetiva renovação na Câmara

 

Candidato a deputado federal com maior votação proporcional do País, Amom Mandel (Cidadania-AM), 21 anos, será o segundo mais jovem da Câmara. Ele foi eleito com 288.555 votos, 14,5% do total de votos válidos do Amazonas. Apesar da idade, Mandel também não se encaixa na renovação efetiva, pois é vereador em Manaus e vem de uma família com cargos no Judiciário do Amazonas.

 

Até mesmo na lista dos 39 deputados eleitos que, pelo critério do estudo, representam a efetiva renovação na Câmara, há nomes que já têm histórico político. É o caso de Guilherme Boulos (PSOL), deputado mais votado em São Paulo que foi candidato ao Palácio do Planalto, em 2018; e de Bandeira de Mello (PSB-RJ), ex-presidente do Flamengo com passagens pela Rede e pelo PSB.

 

Fora desses círculos sobram os influenciadores digitais, que estreiam na política impulsionados por seus seguidores nas redes sociais. É nesse capítulo que entram Delegado da Cunha (PP-SP), famoso por transmitir operações policiais na internet, e Fabio Teruel (MDB-SP), palestrante motivacional e religioso. Entre os novatos “puro sangue” estão, ainda, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos-SP) e o caminhoneiro Zé Trovão (PL-SC), eleito com tornozeleira. Trovão foi punido por desferir ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).

 

No Senado, dos 27 candidatos eleitos no último dia 2, 22 não estão na Casa atualmente. A maioria, no entanto, é formada por políticos experientes, como os ex-governadores Flávio Dino (Maranhão), do PSB, e Renan Filho (Alagoas), do MDB, primogênito do senador Renan Calheiros. Apenas um candidato que venceu a disputa nunca ocupou cargo público: trata-se do empresário ruralista Jaime Bagattoli (PL-RO), apoiador de Bolsonaro.

Dos 17 deputados federais de Goiás, são novatos: Silvye Alves (União Brasil), Gustavo Gayer (PL), Adriana Accorsi (PT), Marussa Boldrin (MDB), Daniel Agrobom (PL). Jeferson Rodrigues (Republicanos), Ismael

Alexandrino (PSD) e Lêda Borges (PSDB).

Wilder Morais, senador eleito pelo PL, retorna à

Casa, já que exerceu mandato com a cassação de

Demóstenes Torres em 2012.

 

Como ficam as Casas Legislativas em 2023

 

CÂMARA DOS DEPUTADOS

 

Na Câmara dos Deputados, apenas 39 candidatos eleitos este ano não possuem algum tipo de vínculo político anterior. A posse dos deputados, em 2023, levará à troca de 45% dos assentos na Casa, mas, por trás da “renovação”, há uma série de vínculos que representam a continuidade de grupos dominantes da política.

 

SENADO FEDERAL

 

Somente um senador eleito no dia 2 de outubro nunca ocupou antes um cargo público. A maioria eleita para o Senado é formada por políticos experientes, como o ex-governador Flávio Dino e o ex-governador de Alagoas Renan Filho, filho do senador Renan Calheiros.

 

Famílias Clãs tradicionais terão representantes no Congresso a partir de 2023, caso dos Arraes e dos Campos. Em 2018, João Campos, filho de Eduardo Campos; e Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, chegaram à Câmara. Em 2022, Pedro Campos, irmão de João; e Maria Arraes, irmã de Marília, foram eleitos deputados.

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