‘Há muita gente boa presa após o 8 de janeiro’, diz presidente da bancada evangélica
Deputado federal Eli Borges (PL/TO) afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro agiu com prudência após derrota e minimiza pedidos de intervenção
Para o novo líder da bancada evangélica, há “muita gente boa” que foi presa após os ataques antidemocráticos em Brasília no dia 8 de janeiro. Segundo o deputado federal Eli Borges (PL-TO), os baderneiros existiram, mas seriam uma “minoria infiltrada” que nada tinha a ver com a “imensa maioria, de boa-fé, na frente dos quartéis cantando o hino nacional”.
O primeiro presidente a assumir o bloco religioso neste terceiro mandato de Lula (PT) faz uma interpretação equivocada da Constituição ao defender que as Forças Armadas “exercem um papel de atender ao clamor popular”. A partir disso, ele diz não ter visto “nada de errado” em pessoas que pediam intervenção militar após a derrota de Jair Bolsonaro (PL).
Deputado federal pelo PL de Tocantins, conquistou o primeiro mandato na Câmara em 2018. Foi antes deputado estadual. Pastor da Assembleia de Deus Madureira, define-se como “o pastor da família e do agronegócio”. Assumiu a presidência da bancada evangélica em 2023.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o deputado defendeu remover o direito ao aborto em casos de estupro e criticou a escola de samba paulistana Gaviões da Fiel por causa de seu enredo neste Carnaval, “Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos”, que alarga o conceito da Santíssima Trindade cristã. “Precisamos entender o seguinte: liberdade [de expressão] não é libertinagem.”
O sr. será o primeiro presidente da bancada evangélica no governo Lula 3. Serão oposição?
– A bancada tem postura de defender bandeiras como a família, luta contra ideologia de gênero, luta pela defesa da vida e contra aborto, contra jogo de azar. Não vamos amenizar nenhuma das pautas que nós defendemos em Brasília. Isso não tem nenhuma correlação com os outros Poderes, nem Supremo [Tribunal Federal], nem Lula.
Vê o governo Lula como oposto a esses valores que o bloco defende?
Não sou eu que vejo, ele [Lula] que verbalizou muitas vezes um pensamento diferente daquilo que mais de 80% da população conservadora prega e defende.
Mas a eleição do Lula não valida um apoio da população às pautas que ele defende? De alguma forma, o Lula teve apoio, sim. A igreja não é política nem tem partido político. Dentro do segmento evangélico, naturalmente o Lula teve um percentual significativo de pessoas que sempre acreditaram que ele não faria exatamente aquilo que ele estava pregando. Por exemplo, o aborto. Ele disse que o aborto é uma questão ligada à saúde da mulher. Nós temos uma visão diferente disso.
O sr. trocou em 2022 o Solidariedade pelo PL e disse que o país precisava de Bolsonaro. Considera-se um bolsonarista?
– Eu me considero um deputado federal que tem afinidade com as bandeiras que Bolsonaro defende. Até porque tenho uma postura política muito interessante. Se você analisar as minhas votações, elas são votações que estão muito ligadas à minha consciência. O Solidariedade foi para o PT, e eu tinha que ficar onde eu estava inserido nas bandeiras que eu defendo. Nesse momento que passou, esse lado era o do Bolsonaro.
Concorda com a definição de que o 8 de janeiro foi um ato antidemocrático?
– Concordo que uma pequena minoria de baderneiros infiltrados praticaram atos antidemocráticos. Porém a imensa maioria, de boa-fé, na frente dos quartéis cantando o hino nacional com a bandeira nacional, estava a serviço da consolidação da democracia brasileira. Esse é o meu pensamento.
Houve participação evangélica forte nesses atos.
– Vi todos os segmentos religiosos que defendem as cores da nossa bandeira, a nossa brasilidade, vi todos na porta dos quartéis. Evangélicos, católicos e espíritas na luta pela democracia.
Na porta dos quartéis havia pedidos de intervenção das Forças Armadas diante de um resultado das urnas que, segundo eles, não seria confiável. Considera que isso também faz parte da consolidação da democracia?
– Se você abrir a Constituição está muito claro: as Forças Armadas exercem um papel de atender ao clamor popular, e essa população foi fazer um clamor que a Constituição define como um direito constitucional. Não vi nada de errado na sociedade fazer o seu clamor.