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Caiado tem chances de ser Presidente da República?

Especialistas explicam que apenas a conjuntura do momento poderá afirmar que o Governador de Goiás irá ou não se tornar um presidenciável

Desde a convenção da União Brasil, quando ficou bem clara a vontade do governador de Goiás Ronaldo Caiado – presidente estadual da legenda – em ser candidato à cadeira de Presidente da República, as conversas nos bastidores da política estadual giram em torno da possibilidade e da viabilidade desta candidatura.  Devemos recordar que Ronaldo Caiado já foi candidato ao cargo em 1989, quando deixou a presidência da União Democrática Ruralista (UDR) em 1989.   

Na ocasião, Caiado candidatou-se à presidência da República pelo Partido Social Democrático (PSD) e obteve a soma de 488 872 votos, o equivalente a 0,68%. O atual governador de Goiás ficou em décimo lugar no pleito e apoiou, como fizeram todos os candidatos de direita,  o candidato vitorioso, Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), no segundo turno.

A eleição de 1989 foi a primeira eleição direta depois da Ditadura Militar. O pleito anterior , que elegeu Tancredo Neves, foi indireto e os parlamentares escolheram o presidente do Brasil, que nem chegou a tomar  posse por ter falecido antes. Em 1989, mais de 20 candidatos concorreram à presidência do país. 

O cientista social Luiz Signates explica que na primeira eleição de Ronaldo Caiado (UB) para a presidência da República ele concorreu com mais de 20 candidatos e que existiam nomes muito importantes no cenário nacional concorrendo a vaga. Crédito: acervo pessoal

De acordo com o Luiz Signates, cientista social, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás),   a candidatura de Caiado, na ocasião, foi viabilizada por ele ter se tornado uma personalidade nacional, por ter sido presidente da histórica União Democrática Ruralista (UDR) que representava os grandes proprietários de terra do Brasil.  O especialista explica ainda que foi uma eleição muito polarizada entre Fernando Collor de Melo, que foi eleito presidente, e por Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda tentaria muitas vezes a cadeira presidencial até conseguir. 

Signates explica que naquela eleição existiam candidatos fortes e com grande representatividade histórica para o Brasil. “Havia gente muito mais importante do que o Caiado disputando aquela eleição, como o Ulysses Guimarães, que tinha sido o presidente da Assembleia Constituinte. Ou o Leonel Brizola, que era uma figura carismática, que fora ligado a Getúlio Vargas”, contextualiza o especialista. 

Mesmo com o resultado pouco expressivo na eleição de 1989, o cientista político explica que o resultado não ficou ruim para Ronaldo Caiado. “Não é verdadeiro que a eleição de 1989 tenha sido ruim para ele. Tanto é que ele se reelegeu deputado federal em todas as eleições seguintes. E, no último pleito, graças a uma aliança feita com um adversário histórico, Iris Rezende, elegeu-se senador e, em seguida, governador”, explicou.

Rejaine Pessoa, Filósofa e cientista política, explica que a eleição de 1989 foi muito importante para Ronaldo  Caiado porque ele teve valorização política. “O seu capital político aumentou nas eleições seguintes”, justificou. 

A viabilidade da candidatura de goianos para a presidência

“Hoje, especulam uma outra  candidatura  de Caiado, mas é preciso lembrar que essa ambição o Íris Rezende e o Marconi Perillo também já tiveram. E não conseguiram se viabilizar, em função da precedência que estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais têm, no cenário nacional”, explicou o especialista, recordando que o estado de Goiás teve poucos presidenciáveis. Além de Caiado, Henrique Meirelles conseguiu consolidar uma candidatura. Pablo Marçal tentou nas últimas eleições, mas não conseguiu.

Signates disse ainda que Goiás não tem relevância eleitoral ou econômica dentro do Brasil,  e é por este motivo que dificilmente consegue emplacar um candidato viável à presidência da república.

O especialista detalha que o governador de São Paulo, por exemplo, “é sempre, quase que naturalmente, pré-candidato à presidência”. Ele detalha que basta analisar os nomes que ocuparam esse cargo ao longo do período pós-ditadura: Paulo Maluf, Mário Covas, José Serra, Geraldo Alckmin e João Dória. “Todos foram candidatos à presidência, exceto este último, que desistiu na última hora nas eleições passadas”” explicou. 

Pedro Célio Alves Borges afirma que Goiás não tem relevância em cenário nacional e isso dificulta ter um presidenciável.

O cientista político Pedro Célio Alves Borges, explica que a dificuldade em se ter um goiano como  candidato à Presidência da República se dá em razão do tamanho do estado no contexto nacional. Segundo ele, o estado é periférico, na estrutura federativa e isso impõe restrições quase intransponíveis para os líderes regionais de Goiás entrarem nos espaços de decisão dos partidos e das instituições fundamentais da economia, da formação de opinião e da cultura. “Pode acontecer algum dia, como se deu com o Collor, mas será exceção”” explicou. 

O cientista político Guilherme Carvalho,  explica, por sua vez, que os motivos são inúmeros para explicar porque Goiás tem dificuldade em emplacar um candidato à Presidência da República. Ele destaca que normalmente se joga a culpa na conjuntura, mas há outros fatores socioeconômicos e geográficos que limitam essa condição. 

O Cientista Político, Guilherme Carvalho, explica que econômica e eleitoralmente Goiás é muito pequeno em relação a outros estados
Crédito: acervo pessoal

Entre elas, ele explica que Goiás tem apenas 3% do eleitorado brasileiro. “É um estado que beira a inexpressividade eleitoral”, declarou. O especialista diz que as últimas eleições mostraram que 3% fazem a diferença no processo eleitoral, mas que fazer a diferença não é ser definidor.

Além disso, ele explica que a expressividade de Goiás é pequena na Câmara e no Congresso. Como exemplo, ele diz que Goiás tem apenas 17 cadeiras na Câmara Federal. Ele disse que apesar do estado ser uma economia agro exportadora relevante, como o do estado do Mato Grosso, Goiás não é uma economia moderna, pujante, no sentido agroindustrial da palavra.   Carvalho diz que isso impõe que Goiás não seja uma economia engajada a nível nacional. 

Além disso, ele explica que Goiás, junto com Tocantins, é um dos estados interiorizados. Geograficamente ele não faz fronteira nem com o oceano e nem com outro país e isso, de acordo com o especialista, diminui a relevância econômica do estado. Segundo ele, por isso, há um trânsito menor de bens e capitais, o que causa um isolamento político do estado.”Goiás está isolada de uma forma irremediável. Muito dificilmente Goiás sai desse isolamento que a geografia lhe impôs”” explicou. 

 

Rejaine Pessoa, Filósofa e Cientista Política, destaca que ainda é muito cedo para ter definições concretas sobre as próximas eleições. Crédito: acervo pessoal

A cientista política, Rejaine Pessoa, fala  que ser presidente da República parece ser um sonho de todo governador goiano. A única exceção, segundo ela, foi Alcides Rodrigues. A especialista diz que se for feita uma análise da política recente, será notado que Marconi Perillo,  Íris Rezende e Maguito Vilela, alimentaram o desejo de se candidatar ao cargo de presidente. 

“Mas, deles, o que chegou mais próximo foi Íris Rezende que disputou com Ulisses Guimarães o direito de se candidatar pelo MDB. Agora Marconi e Maguito nem se quer passaram das especulações”, recorda a estudiosa. Ela recorda também que Henrique Meirelles foi um candidato à Presidência da República que não passou pelo cargo de governador do Estado, em 2018, e recebeu pouco mais de 1% dos votos. 

Caiado tem chances de ser presidente? 

Segundo ela, Ronaldo Caiado sai na frente dos demais por já ter disputado a eleição de 1989 representando os produtores rurais. Questionada sobre as chances de Caiado ser presidente da República, ela diz que só não tem chances quem “não está no jogo”.

A especialista recorda que o ex-presidente Jair Bolsonaro passou grande parte do tempo da pré-candidatura aparecendo com apenas 1% das intenções de votos em 2017 e 2018. “Aconteceu o que aconteceu e tivemos ele presidente da República”, recordou. 

Ela acrescentou ainda que não se pode descartar nenhuma hipótese porque a política é circunstancial.  “A constituição diz que o poder emana do povo. O povo é quem decide”, explicou ao acrescentar que ainda está muito longe e que capacidade política o governador de Goiás tem. 

Guilherme Carvalho explica que se Ronaldo Caiado for candidato ele acredita que será de baixa relevância pelo ponto de vista econômico e geográfico do estado a nível nacional. No entanto, o especialista diz que Ronaldo Caiado tem uma valorização nacional acima do que o estado lhe permite.

“Só que o partido dele vive uma ambivalência entre ser oposição ou não. Isso dificulta que ele se posicione, uma vez que nas eleições temos sempre um afuniamento”, disse.  E, ele pontuou ainda que Caiado do deve concorrer com Romeu Zema de Minas Gerais, Tarcísio de São Paulo e Ratinho Júnior de São Paulo. 

“Neste momento, a situação de Caiado não é favorável porque ele não consegue aglutinar governadores em torno dele porque ele é visto como um peixe grande dentro de um aquário pequeno”, explicou. O especialista disse que o estado impõe limitações a Caiado, mas que se ele conseguir ultrapassá-las terá grandes chances. 

Já Luiz Signates diz que a viabilidade de Caiado como candidato à presidência dependerá muito do modo como a direita brasileira sobreviverá ao mandato de Lula.  O cientista social explica que a direita brasileira é muito pouco ideológica. Segundo ele, a maioria absoluta é simplesmente fisiológica.

Por este motivo, de acordo com o estudioso, esta é a razão pela qual a tendência é, sempre, alinhar-se ao Governo Federal e abrir mão das disputas majoritárias, a fim de eleger boas bancadas no Congresso Nacional e compartilhar os cargos e as benesses dos poderes. 

O especialista pontua ainda que falta à direita brasileira, candidatos populares, com grande potencial de votos. “O único até então foi Bolsonaro, mas que se elegeu em condições muito especiais, que dificilmente se repetirão”, diz ao recordar a radicalização causada por uma crise institucional derivada do impeachment de Dilma Rousseff que se somou à inviabilização jurídica da candidatura Lula, que, à época, era o favorito nas pesquisas. 

“Caiado terá que se impor dentro do União Brasil, que deve também decidir por candidatura própria, vencendo internamente as tendências que com certeza esse partido terá de apoiar candidaturas de estados mais fortes, como é a que já se discute hoje, de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo”, analisa o especialista. 

Signates finaliza a análise dizendo que é muito cedo para avaliar uma viabilidade assim, que já começa pequena, mesmo Caiado tendo condições, história e prestígio dentro do partido.  Segundo ele, é preciso que a conjuntura nacional favoreça Ronaldo Caiado.  

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Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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