Carma de Mendanha passa a negativo com traição a Daniel e evasão do MDB
O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha concretiza nos próximos dias duas situações que têm potencial para destruir a sua carreira política, ou no mínimo, transformá-lo em uma liderança que, também como pessoa, passará a carregar um carma extremamente negativo: trair o “amigo” Daniel Vilela e a memória de Maguito ao negar apoio à aliança do MDB como DEM, que cria um futuro brilhante para Daniel, ao mesmo tempo em que deixará o partido, em uma manobra maquiavélica para enfraquecer o acordo.
São decisões pesadas, que jogam nas costas de Mendanha um carma extremamente negativo. Carma, leitores, é um termo do budismo que significa a somatória das boas e das más ações que alguém pratica na sua vida, formando uma aura invisível capaz de influenciar a visão que se tem desse indivíduo e se refletindo em tudo o que ele faz, para o bem e para o mal.
A traição à família Vilela é gravíssima para Mendanha e define o seu carma como nocivo. Ele mesmo sempre fez questão de chamar atenção para a “lealdade” e a “fidelidade” que devia a Maguito, que citava carinhosamente como seu “padrinho” e ao seu filho Daniel, a quem classificava como “irmão”. De resto, manter proximidade com os Vilelas era positivo para a imagem de Mendanha, que foi um entusiasmado cabo eleitoral tanto de Daniel, para o governo, em 2018, quanto de Maguito, para a prefeitura de Goiânia, em 2020.
Convém lembrar: em Aparecida, 2º maior eleitorado estadual, a presença de Maguito no imaginário da sociedade é uma realidade. Ele é considerado como o prefeito que promoveu uma cidade-dormitório à condição de potência econômica (3º maior PIB municipal de Goiás), gerando seus próprios empregos e recuperando a autoestima da população.
Ao investir raivosamente contra Daniel, Mendanha repudia essa herança – provavelmente como candidato a governador em uma chapa de oposição à reeleição de Caiado, que, como se sabe, terá Daniel Vilela como vice. Ele vai enfrentar o “irmão “com o qual, antes, se proclamava alinhado para o que desse e viesse, como fez nas postagens que publicou quando do rompimento de Daniel com o prefeito de Goiânia Rogério Cruz – de quem, aliás, Mendanha se distanciou em solidariedade ao filho e herdeiro de Maguito.
Que o rompimento com Daniel vai ser visto como “traição” de Mendanha, não há a menor dúvida. Muitos serão os que atirarão a ele a alcunha de “Judas” de Aparecida, sim, aquele apóstolo que se dizia “irmão” de Cristo, mas o vendeu por 30 moedas e, mais de 2 mil anos depois, não foi ainda esquecido – como escreveu o jornalista Divino Olávio.
Mas, juntamente com a facada nas costas de Daniel, Mendanha também vai deixar o MDB, partido no qual nasceu politicamente e no qual o seu pai, o falecido ex-deputado estadual Léo Mendanha, passou a vida. A legenda sempre foi forte em Aparecida e cresceu ainda mais com os dois mandatos de Maguito na prefeitura. Hoje, tem inclusive o maior número de vereadores (são 6), que, em virtude da legislação, não podem acompanhar o prefeito na busca por outra sigla, já que correriam o risco de perder o mandato.
Será que os aparecidenses vão compreender e perdoar Mendanha por esses gestos inesperados de quebra dos laços com a família Vilela e evasão do partido no qual teve a sua trajetória até agora? Por ora, é cedo para avaliar, porém o prognóstico é o pior possível. Não será a primeira vez que as urnas puniriam um renegado, ou seja, um político que renuncia às suas convicções e opiniões para tomar um novo caminho, ainda mais, no caso de Mendanha, radicalmente oposto ao que ele vinha trilhando.
Pela inexperiência e imaturidade, prefeito é visto como “presa fácil”
Ao deixar o MDB e romper com quem antigamente chamava de “irmão”, o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha passa a enfrentar um rosário de desafios, dentre os quais escolher uma nova legenda é o maior deles.
Vários partidos e “partidecos” estão com as portas abertas para Mendanha. Quase todos querem usá-lo para os seus projetos, a exemplo do PSDB, que já foi a maior legenda em operação em Goiás, mas depois das eleições de 2018 caiu para uma posição perto da insignificância.
Problema para Mendanha: os principais nomes do PSDB em Goiás estão envolvidos em cabeludas denúncias de corrupção e recebimento de propinas, a exemplo dos ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton, que já foram alvos até de prisão, o primeiro, e de pedido de prisão, o segundo.
Outro partido cogitado por Mendanha e que seria sua principal opção é o Republicanos, que teria a vantagem de estar em sintonia com a religião do prefeito, que é evangélico e bolsonarista. A dificuldade, nesse caso, estaria na proximidade que a sigla mantém com o governador Ronaldo Caiado, sendo cedo, por enquanto, para a sua definição como integrante de um bloco de oposição em 2022.
Dentro do MDB, o único apoio de expressão que Mendanha tem é o do destrambelhado deputado estadual Paulo Cézar Martins, que passou a ser sua companhia inseparável e tem incomodado na medida em que passou a ser a medida do que o “menino de Aparecida” colocou no lugar de um líder do peso e da tradição pessoal e familiar como Daniel Vilela.
Também há partidos nanicos à disposição do prefeito aparecidense, dentre os quais o PL da deputada federal Magda Mofatto é a alternativa de maior destaque. Mas o PL é um partido identificado com posições retrógradas e com o detalhe de não ser nem um pouco confiável, depois que Mofatto prometeu à vereadora dra. Cristina a candidatura a prefeitura de Goiânia e na última hora fugiu do combinado.
Falta de confiabilidade é um ingrediente que Mendanha encontrará em qualquer partido que escolher. Todos fariam festa com a sua filiação, mas em nenhum deles ele teria qualquer controle e estaria subordinado a decisões das suas direções estaduais, que – como se viu com o PL em Goiânia – podem mudar de opinião em cima da hora.
Mendanha, na verdade, é visto pelas raposas felpudas da política estadual como um “neném” da política, imaturo, inexperiente e extremamente vaidoso, a ponto de se declarar como um “mito” em conversas inclusive com jornalistas. Ocorre que essas características o tornam vulnerável à manipulação, o que, por outro lado, faz com ele não se abra com ninguém e se mantenha na defensiva, temeroso de um passo errado que poderia sacrificar o seu futuro.