Aparecida

Com Mendanha, loteamento político de cargos virou a regra em Aparecida

Aparecida é o maior exemplo de uma prática nefasta da “velha política” que teima em subsistir no Brasil: a utilização dos cofres públicos para comprar apoio político, através do loteamento dos cargos públicos, de maior ou menor importância, entre os partidos e seus integrantes.

Note bem o leitor: o prefeito Gustavo Mendanha não tem oposição. Os 25 vereadores estão na sua base de sustentação. Todos os partidos políticos, inclusive alguns que são rivais nacional ou estadualmente, como o PSDB e o PT, têm seus presidentes nomeados para cargos, em especial as numerosas secretarias municipais.

Numerosas? Sim: a prefeitura aparecidense tem 27 pastas, muito mais que a de Goiânia, cidade com população 3 vezes maior, ou a de São Paulo, que governa 12 milhões de habitantes. Os tempos de pandemia e da sua influência negativa sobre o mercado de trabalho levaram o desemprego para muitos aparecidenses, mas não para os políticos locais.

A abundância de secretarias, com suas chefias de gabinete, superintendências, diretorias e aparecidenses, permitiu a criação de um dos maiores cabides de empregos que já se viu em Goiás e talvez no Brasil, premiando todos os que, ainda que minimamente, tenham qualquer tipo de liderança política em Aparecida.

Mais de 20 presidentes de partidos estão assalariados na prefeitura. Os 25 vereadores nomearam apaniguados à vontade. Suplentes bem votados e ex-vereadores também foram aquinhoados. E todos sabem que, caso cometam qualquer deslize, serão imediatamente retaliados, ou seja, serão demitidos ou terão seus indicados exonerados.

Recentemente, o governador Ronaldo Caiado foi a Aparecida para entregar equipamentos e inaugurar instalações físicas em um batalhão da PM que opera no município. Nenhum vereador apareceu, mesmo muitos deles sendo ligados à tropa e tendo bases entre os policiais militares. Ao Diário de Aparecida, um deles confidenciou, sob juramento de anonimato, que gostaria de ter comparecido, mas não foi diante da certeza de que seria “punido” pelo prefeito, hoje desafeto do governador.

É o maior loteamento político já visto em Goiás, não custa repetir, talvez no país. Transforma Aparecida em uma “corrutela” do tempo dos coronéis, custa milhões por mês e onera o caixa municipal em troca de… nada. Muitos dos nomeados não têm sala ou sequer mesa para trabalhar. Mas estão na folha de pagamento, enquanto Aparecida carece de soluções para problemas que o prefeito não consegue resolver, como a falta de vagas para as crianças na rede municipal de Educação Infantil por falta de CMEIs onde elas possam ser acolhidas ou as centenas de ruas sem asfalto.

Nos dois mandatos do prefeito Maguito Vilela, antecessor de Gustavo Mendanha e seu “padrinho político”, Aparecida foi administrada sem a concessão exagerada de cargos para indicados dos partidos políticos. Maguito, dentro do estilo que o caracterizou quando foi governador de Goiás, deu preferência para quadros técnicos e segurou a folha de pagamento dentro de limites compatíveis com a necessidade de dar alguma profissionalização para a sua gestão.

Com a posse de Mendanha, essa linha de conduta foi abandonada. Instalou-se uma “ditadura”, através das nomeações que, caso haja alguma rebeldia ou uma ação contrária, mesmo reles, são imediatamente canceladas. Ninguém tem opinião sobre nada e todos, como cordeiros bem alimentados, seguem as ordens do “chefe” de cabeça baixa. O prefeito decide sozinho, sem ouvir nem dar satisfações a quem quer que seja.

É esse o “modelo administrativo” que Mendanha, há dois meses, disse em entrevista a O Popular, propôs para o Estado de Goiás.

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