Política

Bolsonarismo mostrou força em Goiás: Wilder é o provável herdeiro do grupo

Senador eleito passa a ser o principal representante da extrema-direita, que parece contar com a simpatia da maioria dos goianos, conforme mostraram as urnas

 

Com uma virada às vésperas da data da eleição, Wilder Morais ganhou o Senado e a liderança do bolsonarismo em Goiás a partir de agora 

Depois de encerrada a eleição presidencial, com a derrota do presidente Jair Bolsonaro, mesmo assim o bolsonarismo mostrou que é uma força no país e, em especial, em Goiás, onde a reeleição do presidente teve a adesão entusiasmada da maioria da população.

 

A eleição de um senador estreitamente vinculado com a extrema-direita bolsonarista reforçou ainda mais essa corrente política no Estado. Trata-se de Wilder Morais (PL), que, individualmente, não foi bem votado, alcançando apenas 750 mil votos em um universo de 4,8 milhões de eleitores, porém acabou em 1º lugar e arrematou a cadeira senatorial disponível para Goiás neste ano.

 

Wilder vem de fora da política, é um empresário rico e bem-sucedido que já foi senador, quando assumiu o mandato por pouco mais de 7 anos com a cassação de Demóstenes Torres, na condição de 1º suplente.

 

Na eleição deste ano, procurou se identificar com dedicação

total com Bolsonaro, compondo a chapa de outro bolsonarista

roxo, o Major Vitor Hugo (PL), que veio de fora para disputar o

governo de Goiás em nome do presidente.

 

Sem expectativa de vitória em uma campanha que foi dominada de cabo a rabo, isto é, do início até as vésperas da data das urnas, pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB), Wilder surpreendeu na reta final e ganhou – beneficiado pela onda bolsonarista que elegeu 15 senadores pelo país afora, todos mediante viradas no último momento, como o vice-presidente Hamilton Mourão no Rio Grande do Sul, a ex-ministra Damares Alves em Brasília e o astronauta Marcos Pontes em São Paulo. Wilder, além disso, foi responsável direto pela campanha de Bolsonaro em Goiás, tanto no 1º quanto no 2º turno.

 

Neste, alinhou-se com o governador Ronaldo Caiado, que resolveu também se empenhar pela reeleição do presidente, com quem teve desentendimentos anteriormente, alegando que não poderia deixar de ter lado em uma eleição tão importante para o país.

 

Pela importância do mandato que conquistou, ele foi automaticamente ungido como o líder maior do bolsonarismo no Estado. O movimento, mesmo derrotado nacionalmente, por uma pequena diferença, saiu fortalecido das urnas, depois que os goianos aumentaram a votação de Bolsonaro, no 2º turno, e conseguiram 2,2 milhões de votos para ele ou quase 60% dos votos válidos.

 

Há muito futuro nesse somatório de números favoráveis: o bolsonarismo, mesmo experimentando algum esvaziamento e perdas em razão de não deter mais o governo federal, vaipersistir como uma espécie de partido político não formalizado e influenciar as decisões pelos próximos anos no Brasil. Mais até em um Estado que já é naturalmente conservador e que abraçou com paixão o radicalismo de Bolsonaro, ou seja, a extrema-direita ideológica.

 

Wilder não está sozinho. Ele contará ao seu lado com o senador Vanderlan Cardoso, outro bolsonarista, e com parlamentares eleitos em íntima identificação bolsonarismo, como os federais Gustavo Gayer (PL) e Magda Mofatto (PL). Mas poderá perder os deputados estaduais eleitos pelo PL (Major Araújo, Paulo Cézar Martins e Delegado Eduardo Prado), vítimas do descumprimento da cota feminina pelo partido. Em compensação, terá ao seu lado um radical como Amaury Ribeiro, eleito para a Assembleia prometendo pegar em armas para “combater o comunismo no Brasil”.

 

Desde já, o vice-governador eleito Daniel Vilela e o senador Vanderlan Cardoso são nomes cotados para disputar o Palácio das Esmeraldas em 2026, mas agora Wilder Morais está no meio do caminho

 

 2026: senador eleito deve enfrentar Daniel Vilela pelo governo de Goiás

 

É uma previsão que vem sendo feita com uma insistência e repetição cada vez maior: o senador eleito Wilder Morais será candidato ao governo de Goiás em 2026, enfrentando o representante da base comandada pelo governador Ronaldo Caiado – que será o seu vice Daniel Vilela.

Daniel Vilela assumirá o Palácio das Esmeraldas em 2026, com a desincompatibilização para disputar o Senado ou a Presidência da República (o governador goiano é, desde já, um dos 10 nomes mais cotados para a corrida pelo Palácio do Planalto).

Antes de 2026, haverá a disputa pela prefeitura de Goiânia em 2024. Estima-se que o candidato do bolsonarismo será o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que já se lançou ao cargo por 2 vezes e em ambas bateu na trave, isto é, foi para o 2º turno e perdeu pouco uma vez para Iris Rezende (MDB) e outra para Maguito Vilela (MDB).

Há especulações de que Wilder poderia se candidatar em Goiânia, mas, diante do peso da sua vitória para o Senado e projeção da sua liderança, é provável que essa seja uma meta modesta diante das suas potencialidades.

O problema, para o senador eleito, é justamente Vanderlan, seu companheiro de bolsonarismo, que também ambiciona o governo do Estado e pode se candidatar à prefeito de Goiânia apenas para criar um trampolim para 2026, repetindo experiências exitosas como as de João Dória e José Serra em São – que primeiro foram prefeitos, depois renunciaram antes do fim do mandato, disputaram o governo paulista e ganharam.

Mas Wilder e Vanderlan podem acabar compondo, o que, em princípio, não aconteceria em relação a Daniel Vilela. E principalmente se Vanderlan realmente disputar e vencer em Goiânia, nessa hipótese optando por cumprir o seu mandato até o final e abrindo caminho para a candidatura de Wilder ao governo do Estado, com o seu apoio.

O eleitorado bolsonarista, em Goiás, já mostrou que prefere alternativas mais radicais e mais identificadas, sem margem de dúvidas, como o seu “Führer” supremo. Nas eleições em 1º turno, por exemplo, o agronegócio e o empresariado abandonaram a candidatura de Caiado e apoiaram Major Vitor Hugo, mesmo sendo uma figura desconhecida entre os goianos e desconhecedora dos problemas e desafios do Estado.

Caiado foi visto como uma liderança de direita, porém longe dos radicalismos da turma bolsonarista e por isso rejeitado pelo grupo. De qualquer maneira, esse é uma prenuncia de que a direita em Goiás deve se dividir nos próximos anos, assim como a nacional, entre extrema-direita e direita democrática. Wilder estará no 1º grupo.

 

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo